terça-feira, fevereiro 06, 2007

Mensagem do Prof. Luís Miguel Neto


“ALGUMAS PALAVRAS

SOBRE ALGUNS NÚMEROS…”

Devo começar por afirmar que, de há muito tempo a esta parte, tenho uma péssima relação com as “notas”. Quer as do sistema fiduciário que medeiam as relações de compra e venda de bens, produtos e serviços na cultura em que vivemos, quer as outras, as que vêm mais directamente ao caso, e que pontuam diferentes processos de avaliação. Como disse, por ocasião do primeiro encontro que tive o prazer de ter com as pessoas que integram a comunidade que se juntou no ano lectivo de 2006/07 a propósito de uma cadeira da licenciatura em Psicologia da FPCE-UL designada como Métodos Sistémicos de Intervenção, a minha posição, no âmbito da referida comunidade é a de conferir um “Aval-para-a-acção”. É parecido com avaliação, mas não é rigorosamente a mesma coisa. Desculpem-me a menção mas o rigor faz parte do meu ideário pessoal e, também, profissional. Só que este “meu” rigor, entendo-o que deva ser um rigor vitae, e não o rigor mortis dos colegas médicos especializados em anatomo-patologia, ou dos colegas psicólogos que andam lá próximos. A imaginação, sem rigor, transforma-se num Carnaval esquizofrénico, o rigor, sem imaginação, é a antecâmara da morte. Naturalmente que, esta ideia é-me segredada num remoto espaço da minha consciência por um outro fantasma amigo, o Gregory Bateson, com quem, no meu privado mundo mental, partilho uma série de ideias e predisposições à acção, como vimos na aula em que “evocamos” o nosso comum amigo (fantasma, claro) Ludwig Wittgenstein, na altura por via de alguns dos grandes médiuns da nossa comunidade, o Sérgio, a Sofia, a Sara, a Catarina e a Vanessa.

O que é que eu quero dizer com isto tudo? Uma ideia só e simples: As pessoas não são feitas para os números, não cabem nos números, não se reduzem a números, embora em momentos da história, algumas pessoas, deixassem de ter nomes para passarem a ter números tatuados nos braços. Contudo, au contraire, os números podem ser muito úteis na vida das pessoas. No SAFI, por exemplo, utilizamos números em todas as conversas com as diversas comunidades de pessoas que nos visitam e nos pedem ajuda. São, porém, números que levam a palavras-e-acções significativas. Não são números significativos num qualquer “ein sich”, de raiz platónica e kantiana. São números significativos no contexto de vida das pessoas. Por exemplo, quando fazemos a pergunta escala, os números que as pessoas nos “dão”, são-lhes devolvidos para que o futuro delas seja mais … rico, promissor, descobridor de novos sentidos e densidades, definidos nos contornos e termos delas próprias.

- “Mas olhe lá, oh LMN! Onde é que quer chegar com isto?” – agora é um@ abstracto “alun@ interiorizado” que me segreda esta mensagem e, implicitamente, me pede para me despachar (acto de fala indirecto dentro de uma comunicação imaginada).

O que eu pretendo é dar a minha própria visão sobre a experiência de participação em MSI 2006/07, e expressar um inequívoco agradecimento aos participantes da tal turma-comunidade. Porquê? Porque foi uma experiência riquíssima, única, e extremamente transformadora. Ah! Já me esquecia! Também se aprenderam “conteúdos”, as aprendizagens de nível 0, do Bateson, outra vez. Mas foi muito mais do que uma aprendizagem de conteúdos, de informações abstractas que não chegam a ser conhecimento, como a personagem no White Man Cann’t Jump que passa a vida a treinar para ganhar o Jeopardy e que acaba a saber o nome de 12 frutas começadas por M. (e a arrecadar 1 milhão de dólares como by product).

Falando em filmes marcantes: Quais foram os Remains of the Day da experiência de MSI 2006/07?

1.Para mim, claro, ficou-me a comunicação com o Roger Lowe. A comunidade científica é feita por pessoas-e-documentos-e-acções-e-mais-outras-pessoas-e-outros documentos-e-outras-acções num ciclo recursivo infinito que vem desde os séculos XVII e XVIII, “datas-janela” viram nascer a Revolução francesa e a ciência como hoje a pensamos. O Roger Lowe, antes desta nossa experiência era (só) um nome de um autor da bibliografia. Importante, sim, mas só um nome e algumas ideias para a acção prática profissional. O grupo que o “apresentou” deu-nos mais que as suas ideias. Deu-nos as ideias e a pessoa. A difference that makes a difference. O número 18, começa a ter algum significado neste contexto de acção e pensamento.

2. As pessoas da “Clínica-dinâmica”, o David, a Rita, a Renata, a Cintya, a Ana Filipa. Que saudades que eu tinha de conversar a propósito da rés sistémica com colegas da clínica-dinâmica! Este tipo de conversa foi uma das ideias fundamentais de dois dos fundadores da FPCE-UL, pessoas por quem nutro um grande-respeito-profissional-que-abraça-a-amizade-pessoal: os professores Pina Prata e Rita Mendes Leal. E que falta que esta conversa (me? nos?) faz no contexto da formação de jovens psicólogos, sobretudo numa cultura em que a profissão e o trainning específico tende, num perigoso e quase literal, redutio ad absurdum, a ser equacionada como a gestão de um conjunto de técnicas. Este grupo quis fazer o aprofundamento dos seus trabalhos numa altura mais oportuna e consentânea Para este tipo de atenção e cuidado pré-profissional é que existem as 2as épocas. Mas fica já o agradecimento pelo enriquecimento proporcionado pelas vossas presenças.

3. Os Erasmus, a Sandra, o Miguel, o Xavi, o Rodrigo e, no âmbito do protocolo luso-brasileiro de comutação de discentes (para quando os docentes?) a Maisa. Que bom terem-nos visitado e emprestado a vossa experiência e saber internacional! A sistémica nunca foi paroquial, sempre foi internacional! Muito obrigado, muchas gracias, graciés, por nos lembrarem isso e enriquecerem a nossa conversa local, transformada em acontecimento planetário, até com estudos de caso que nos levaram à consideração de uma intervenção em comunidades na Amazónia!

4. Aos que “jogam em casa”, mais propriamente no domus mentalis sistemicus, uma vez que temos a preciosa e graciosa companhia de pessoas das ilhas e de fora da grande Lisboa. Ká vos espero (na ISGH)! Até já estou com saudade! Que delicia foi participar nas apresentações a la world café, e ler os vossos MM e KK (Mail for Miki e Kartas a Kundera)! Os vossos textos (todos, cfr. “totalidade sistémica inclusiva”) têm de ser tornados públicos para uma audiência relevante. Estou a pensar nos sistémicos do ano passado e no 4º ano do mestrado integrado ou, ainda, “novos públicos” para quem o nosso trabalho faça sentido. É que mais do que um privilégio, é um excesso ser eu, a única pessoa que ficou com uma visão sistémico-global das vossas produções! Que pequeninos são os números quando comparados com o que vocês quiseram emprestar aos trabalhos que fizeram!

Aqui fica o meu “obrigado!”. Just (keep doing) it!

Nota final: Se alguém tiver observado alguma incongruência entre o número por mim atribuído e o seu mundo “real”, estarei disponível para ouvir todos os detalhes da “estória” pessoalmente, ou no: neto@fpce.ul.pt

Cumprimentos do V/ dedicado

Luís Miguel Neto

1 Comments:

Blogger MARIA IRENE PEIXOTO GUIMARÃES said...

Olá Dr.

Acabo de vê-lo no programa com a Fátima Lopes...

Fui ao programa da Júlia Pinheiro, 17 de Junho de 2010, no qual o Dr. participou, foi nesse dia, que faleceu o pai da Júlia, foi avisada no fim do programa...

Gostei muito de o CONHECER, falou comigo, no fim do programa, à saída...

Lembra-se da minha "treta", casada com Muçulmano?

Estou MUITO FELIZ, na minha VIDA...

Está neste momento, a falar com a Fátima, sobre este assunto...

BEIJIHOS E FELICIDADES para 2012


Gostava MUITO, de voltar a estar consigo...

Irene Guimarães

Trofa

5:22 da tarde  

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